A família do comerciante Dorival Vieira Júnior, o ‘Cabelo‘, definiu os detalhes sobre o local do velório e o horário do seu sepultamento para as despedidas dos clientes e amigos.
O velório teve início às 18h30 desta terça-feira, dia 14 de outubro, na sala 7 do Centro Funerário São Vicente, na avenida Abílio Duarte de Souza, de onde sairá o féretro na quarta-feira, dia 15, às 15h30.
O sepultamento foi marcado para às 16 horas, desta quarta-feira, no Cemitério Municipal da Saudade.
Dorival Vieira Júnior, conhecido pelo apelido de ‘Cabelo‘ (foto abaixo), que completou 56 anos na semana passada, foi encontrado morto em sua residência, na rua Caramuru, onde morava sozinho.
Como ele não abria a porta para atender o chamado de um construtor quer realizada uma reforma na casa, o Corpo de Bombeiros e o SAMU foram acionados e constataram que ele estava morto.
Segundo a Certidão de Óbito assinada pelo médico do SAMU, a causa da morte foi um infarto.
BUTEQUEIRO RAIZ – Dorival ‘Cabelo’ tinha uma clientela cativa e era considerado um verdadeiro butequeiro raiz.
Avesso à moda e costumes, ele não gostava de sapatos, calça comprida e camisas com botões. Independente da situação ou local ou clima, Cabelo trajava sempre uma camiseta cavada, bermuda jeans e um par de chinelos de dedo. O cabelo comprido era sempre amarrado no estilo ‘rabo de cavalo’.
Seu universo, das 10 às 13 e das 17 às 24 horas, de terça a domingo, era atrás do balcão, onde, além de servir os clientes, consumia suas garrafas de 600 ml de cerveja da marca preferida, desafiava a lei com um cigarro à boca tranquilamente e ‘viajava’ no tempo, escutando pen drives com seleções musicais variadas, que iam desde os clássicos do sertanejo até os principais sucessos do bom e velho rock in roll, nacionais ou internacionais.
Na maioria das vezes calado, usando respostas monossilábicas, Cabelo era avesso à ‘conversas fiadas’. Quando não ia com a cara do freguês ou ele estava incomodando, sacava a tradicional frase: “Não vou te mandar embora, mas será um prazer você não voltar”. O recado estava dado e, geralmente, era obedecido.
O balcão do bar vivia recheado com inúmeras cartelas de rifas dos mais diferentes prêmios e estava sempre limpo e seco.
À cada bebida servida, Cabelo passava um pano para tirar o pó e a umidade e ajeitava as cartelas de rifas, as quais tinham um pequeno peso para não voarem com o vento vindo do ventiladores, sempre ligados em direção ao balcão.
Os prêmios das rifas geralmente eram os mesmos: peixe, pote de palmito e cartelas do Hiper Saúde. Os fregueses tinham como hábito ‘fechar a carreira’ e rapidamente as rifas eram fechadas em pouco tempo e o prêmio imediatamente entregue.
Os clientes, cientes que ‘Cabelo’ não entregava fichas de sinuca ou bebidas na mesa, tinham que fazer o pedido diretamente no balcão. Todos sabiam ou eram alertados pelos frequentadores mais antigos que ele não gostava que ninguém ficasse em pé, com os cotovelos apoiados no balcão, à sua frente. No máximo, o butequeiro permitia que dois ou três ficassem sentados nos bancos de madeira, estrategicamente colocados nas laterais do balcão.
Palmeirense contido, Cabelo era avesso a ligar o aparelho de TV nas transmissões de futebol, mesmo que fossem jogos da Seleção ou de seu clube. Vez ou outra, permitia que um dos aparelhos fosse ligado para retransmitir jogos do VOCEM, mas também era raro. Só quando alguém insistia muito ou era um pedido coletivo.
Fora do balcão, Cabelo passou a ter uma vida solitária após o falecimento de sua mãe. Sua companhia em casa, além dos cães, era um pequeno aparelho de rádio na cabeceira da cama, sempre sintonizado na Rádio Difusora. Ele acordava cedo para ouvir os noticiários da emissora.
Pelas manhãs, Cabelo tinha o hábito de passear com os cães que criava. Saía sempre com um galho de árvore ou um cabo de vassoura à mão para defender seu cão de eventuais ataques de outros animais.
Outra diversão de Cabelo era as constantes pescarias com os amigos. Avisava os fregueses, fechava o bar e não tinha previsão de volta, para desespero dos vendedores e entregadores de bebidas, salgados ou sorvetes.
Butequeiro raiz, Cabelo geralmente fechava as portas, colocava cadeado e, junto com amigos, saía para participar de bingos ou para visitar outros bares. Onde chegava, avisava que não tinha hora para ir embora.
Assim era a vida desse butequeiro raiz da vila Operária que se vai, deixando a saudade entre os clientes, amigos e familiares.
A todos, nossos sentimentos!
Cabelo morreu aos 56 anos, vítima de infarto