MEMÓRIA MARIANA – Massagista Mozart, ‘o gordo mais rápido do Brasil’ que hoje não consegue andar

No dia 25 de maio comemora-se o ‘Dia do Massagista’.

Para marcar a data, a coluna ‘Memória Mariana’ entrou em contato com Mozart Soares, uma das lendas vivas do futebol brasileiro, que passou pelo VOCEM nas temporadas de 1982, 1984 e 1992, quando o estádio Tonicão foi inaugurado.

Atualmente, com 68 anos de idade, ele mora em Santos, num pequeno quarto ao fundo da casa da irmã, Marineide, que também cuida de sua mãe.

Mozart não esconde as dificuldades enfrentadas nos últimos anos: “Não consigo andar e não posso trabalhar. Falta dinheiro para comprar até meus remédios. Nossa casa teve duas inundações e estamos com o aluguel atrasado. Estou nas mãos de Deus”, resume.

Amigos que o futebol lhe deu na vida têm ajudado com campanhas de arrecadação.

Uma conta corrente foi aberta pela irmã para receber doações daqueles que quiserem e puderem contribuir para que Mozart possa vencer as dificuldades de saúde, voltar a trabalhar e realizar o sonho de voltar “à inesquecível Assis”, onde, além de massagista do VOCEM, foi Papai Noel e Rei Momo.

Conheça a vida, a trajetória e o drama do massagista Mozart, entrevistado da semana na ‘Memória Mariana’.

PASSADO – Nascido na cidade de Serra Dourada, no interior da Bahia, em 15 de maio de 1952, Mozart Soares de Souza começou a atuar como massagista na cidade de Araçatuba, aos 14 anos de idade, como auxiliar do médico do clube T. Maia.

Com o que aprendeu em procedimentos fisioterápicos, infravermelho, ultrassom, visando a recuperação de atletas, Mozart começou a atuar em clubes de futebol na Associação Esportiva Araçatuba.

Em 1979, começou a ter projeção, ganhar reconhecimento e fama no futebol ao conquistar o título da Copa São Paulo de futebol júnior, pelo Marília Atlético Clube.

Em 1982, Mozart chegou a Assis, com 30 anos de idade, vindo do Marília, junto com o treinador Valter Zaparolli.

O corpo, com peso aproximado de 180 kg, contrastava com a rapidez com que ele deixava o banco para correr em direção ao atleta lesionado. “Nunca me incomodei com os xingamentos da torcida adversária e nem mesmo com o delírio dos torcedores do nosso clube gritando meu nome. Meu único pensamento era chegar rápido para amenizar a dor do nosso jogador”, conta o massagista, que chegou a ser considerado por parte da imprensa nacional “O gordo mais rápido do Brasil”.

“Em 82, quando nos apresentamos, ao final do primeiro turno, o VOCEM estava em último lugar. Remontamos o time e fomos campeões invictos do segundo turno. Só não avançamos por problemas extra-campo”, acredita, mas garante: “Era um time espetacular”.

Zaparoli e Mozart foram contratados novamente em 1984 para comandar o VOCEM. Desta vez para a melhor campanha da história do ‘Esquadrão da Fé’. “Só não subimos para a Divisão Especial porque houve esquema de arbitragem. ‘Roubaram’ a gente na reta final. Um árbitro, que não posso falar o nome, me disse, anos depois, que estava armado para a gente não subir”, garante o massagista.

Para ele, o time de 1984, atualmente “brigaria até pelo título do Campeonato Brasileiro da Série A”. Segundo Mozart, os adversários tremiam só de ver nossos jogadores entrando em campo: “Itamarzão, Manfrini, Renatão, Betão, Adilsinho e os demais. Era um time descomunal, meu Deus!”, se recorda.

De 1984, Mozart falou sobre o lance que gerou a penalidade máxima e decretou a derrota na estreia do quadrangular final, em Marília, contra o Paulista. “Aquele lance foi uma infelicidade do nosso zagueiro, mas o jogo estava com as cartas marcadas. Uma hora ou outra, o árbitro marcaria pênalti contra a gente”, suspeita ele.

Mozart voltou a Assis em 1992, para a inauguração do estádio Antônio Vianna Vianna Silva na comissão técnica de Antônio Leone, mas não ficou para a temporada.

O massagista se emociona ao recordar de Assis e chega a chorar durante a entrevista.

“Me perdoe. Não consigo segurar a emoção. Me lembro de ter sido Papai Noel e distribuir balas e presentes às crianças na avenida Rui Barbosa. Me lembro do estádio da Ferroviária, do Marcelino de Souza. Da avenida, da praça da Igreja Matriz e daquela pracinha na vila Operária. Também fui Rei Momo no Carnaval de Assis”, conta.

Mozart se lembra dos muitos amigos que conquistou em Assis. Muitos deles já morreram: Padre Aloísio Beline (fundador do time), Picha (Luis Carlos Sampaio), Pedro Bruzarrosco (diretor e dono do Balneário Roma, onde ele trabalhou), Sargento Galvão (ex-diretor), entre outros.

“Tenho muita saudade de Assis. Essa cidade é inesquecível. Um dia voltarei para visitar meus amigos”, sonha.

Depois do VOCEM, Mozart passou por quase 50 clubes em diferentes estados, até ser forçado a encerrar sua carreira, quando foi picado por uma aranha marrom, que necrosou um dos pés. Para piorar a situação, rompeu o tendão da outra perna, sendo obrigado a para de trabalhar.

PRESENTE – Além de Araçatuba, Marília e VOCEM, o massagista Mozart passou por dezenas de clubes ao longo dos quase 40 anos de carreira no futebol.

Athletico Paranaense, Penapolense, Londrina, Astral, Velo Clube, Bragantino, São Paulo, Grêmio de Maringá, São Carlense e Noroeste de Bauru são alguns clubes onde atuou.

No ano de 2.011, quando trabalhava no Prudentópolis, no Paraná, foi obrigado a encerrar a carreira. Ele conta que dormia no Centro de Treinamento do clube, quando, numa madrugada fria, foi picado por uma aranha marrom.

O veneno do aracnídeo, aos poucos, causou uma necrose no seu pé direito.

Perdeu peso e enfrentou uma série de problemas nos rins, fígado e estômago, além do diabetes. “Pude acompanhar o meu pé apodrecendo sem nada poder fazer”, se entristece.

O rompimento parcial do tendão de Aquiles da perna esquerda fez com que ele parasse, definitivamente, de trabalhar e necessitasse de cadeira de rodas ou muletas para se locomover.

Até hoje, Mozart não esconde sua mágoa com os diretores do Prudentópolis. “Não tive registro na Carteira de Trabalho. Não recolheram meu FGTS e ainda foi demitido, sem qualquer tipo de assistência”, denuncia.

Há seis anos, Mozart passou a morar em Santos, num quarto da casa de sua irmã, que já cuidava da mãe. “É uma casa humilde, no bairro de Santa Maria, que já registrou duas inundações com as enchentes”, relata.

“A aposentadoria que consegui, mal dá para ajudar nas necessidades diárias”, completa.

Antes da pandemia da COVID-19, Mozart frequentava, diariamente, uma policlínica do bairro para trocar seus curativos no pé infeccionado pelo veneno. “Agora, sem poder sair de casa, por conta do vírus, eu mesmo faço o curativo, que é muito dolorido”, explica.
A perda de peso provocou outro problema. “Tenho 42 kg de pelanca, que iria tirar na Santa Casa da Santos, mas o hospital está reservado só para os casos do vírus 19”, se referindo aos atendimento aos pacientes do coronavírus.

“Estou na fila do SUS aguardando para a retirada desta sobra de pele, mas não há qualquer previsão dessa cirurgia”, lamenta.

Mesmo diante de tantos problemas, Mozart demonstra muita confiança e esperança em poder voltar a trabalhar para transmitir o que aprendeu e atuar no que mais sabe fazer: tratar de lesões.

“Quando voltar a andar, vou subir num ônibus em Santos e desembarcar em Assis. Quero rever meu amigos e lembrar dos meus tempos de ídolo no VOCEM. Eu amo essa inesquecível cidade de Assis”, se despede, aos prantos.

AJUDA – Assim como os ex-jogadores do Grêmio Maringá, onde Mozart trabalhou, um grupo de ex-jogadores, torcedores e diretores do VOCEM está divulgando o número da conta corrente para quem quiser e puder colaborar com massagista Mozart, mais um personagem do ‘Esquadrão da Fé’, que teve a sua história de vida retratada na coluna “Memória Mariana”.

A ajuda ao massagista Mozart pode ser depositada na Caixa Econômica Federal, em nome de Marineide Souza, agência 4129, operação 013 e conta corrente 3265-9.

onde anda Mozart pronto

Memória Mariana: passado e o presente do massagista Mozart

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